Teatro Procópio Ferreira fecha após 77 anos e expõe impacto da verticalização da Rua Augusta, no Centro de SP
Teatro Procópio Ferreira fecha após 80 anos e expõe impacto da verticalização da Rua Augusta
O Teatro Procópio Ferreira, localizado na Rua Augusta, no Centro de São Paulo, ficou nacionalmente conhecido por abrigar as gravações do programa “Sai de Baixo”, exibido nas noites de domingo na TV Globo entre 1996 e 2002. O espaço, que funcionou no número 2.823 por 77 anos, teve suas atividades encerradas e deve ser demolido para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários.
O fechamento do tradicional teatro evidencia as mudanças em curso na região e expõe a mudança na identidade da Rua Augusta, que durante décadas foi um sinônimo da diversidade paulistana.
A rua misturava comércio alternativo, teatros, bares, baladas. Tribos distintas frequentavam a área e transformaram o endereço em um dos principais polos culturais da cidade, vivendo seu auge entre os anos 1990 e 2010.
Claudia Jimenez, Tom Cavalcante, Miguel Falabella e Marisa Orth, elenco do programa 'Sai de Baixo'
JF Diorio/Estadão Conteúdo
“Eu acho triste, né? Vai ficando cada vez mais uma São Paulo pobre nessa parte de cultura e entretenimento”, lamenta a consultora de vendas Fran Araújo. “Todo mundo precisa trabalhar, mas também precisa ter um pouco de diversão.”
Apesar de a verticalização prevista para a região atrair novos moradores e, com isso, ampliar o fluxo de clientes, quem trabalha na rua afirma que a essência da Augusta está ameaçada.
“É uma rua muito gostosa, sempre foi”, afirma o chef Rafael Sandoval Mendes. “Mas essa identidade está se perdendo. Cada vez que surge uma placa de ‘aluga’, mais um pedacinho da identidade da Rua Augusta vai se acabando.”
Placa da Rua Augusta, no Centro de São Paulo.
Reprodução/TV Globo
Verticalização
A mudança no perfil da região não é por acaso. Segundo o consultor em políticas urbanas Gabriel Rostey, a Prefeitura de São Paulo definiu a Augusta como parte de um eixo de desenvolvimento previsto no Plano Diretor e na Lei de Zoneamento destinado à verticalização. “A ideia é trazer mais gente para morar aqui e usar a infraestrutura que já existe”, explica.
Mas no caso do teatro, diz ele, o problema não é a vocação natural da cidade para se transformar, e sim o mercado imobiliário.
“O teatro continua cheio, com agenda lotada. Não perdeu interesse nem demanda”, afirma.
“Mas por uma questão imobiliária, como a possibilidade de construir prédios aqui, um espaço como esse, com quase 80 anos, vai acabar demolido. E a região perde identidade.”
Rostey defende que a solução está no planejamento antecipado. “Enquanto não houver um inventário feito pela prefeitura, com participação da sociedade, para descobrir quais locais devem ser preservados, isso vai continuar acontecendo”, diz.
Segundo ele, é possível conciliar desenvolvimento urbano e proteção da memória cultural da cidade.
“A cidade pode continuar crescendo, adensando, o que é positivo urbanisticamente, sem perder seus espaços relevantes.”FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/11/17/teatro-procopio-ferreira-fecha-apos-77-anos-e-expoe-impacto-da-verticalizacao-da-rua-augusta-no-centro-de-sp.ghtml