Por que Campinas quer tombar paralelepípedos do Cambuí e da Vila Industrial?

  • 04/11/2025
(Foto: Reprodução)
Prefeitura inicia estuda de tombamento de paralelepípedos do Cambuí e da Vila Industrial O chão onde se pisa conta muita história. E os paralelepípedos que pavimentam ruas do Cambuí e da Vila Industrial, em Campinas, podem ajudar a resgatar o passado da cidade. É por isso que o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) aprovou a abertura de estudo de tombamento de trechos de 51 ruas (24 na Vila Industrial e 27 no Cambuí). — saiba mais abaixo. A decisão foi publicada na última terça-feira (28) no Diário Oficial e representa o início de uma nova etapa de estudos técnicos sobre o valor histórico, urbanístico e ambiental dos paralelepípedos nestes locais. No momento, tais ruas estão tombadas provisoriamente até que se concluam os estudos. Entre as ruas estão Coronel Quirino, Maria Monteiro e Santos Dumont, no Cambuí; e Vinte e Quatro de maio, Mestre Tito e Barão de Monte Mor, na Vila Industrial. 📱 Baixe o app do g1 para ver notícias da região em tempo real e de graça Se o tombamento for definitivo, será a primeira vez que ruas de paralelepípedos terão proteção legal na cidade. (Atualmente, existem trechos de paralelepípedos protegidos por serem considerados "áreas envoltórias" de bens tombados. Mas ainda não existem arruamentos tombados por si só). "O paralelepípedo começa a ser usado nos anos 1870 e vai até os anos 1940. A partir dele, é possível definir qual era o perímetro urbano da cidade e entender essa temporalidade", explica o historiador Henrique Anunziata, que integra o Condepacc. Nesta reportagem, você vai ver: Tombamento provisório Da terra ao asfalto Sustentabilidade urbana e charme Listagem das ruas Tombamento provisório Fase inicial. O processo de tombamento exige uma séria de etapas. A primeira delas é entrar com o pedido na prefeitura, o que pode ser feito por qualquer cidadão. O pedido deve conter um pré-estudo e será analisado por um colegiado. No caso da Vila Industrial, o pedido foi feito pela professora Ana Villanueva, moradora do bairro desde 1994, em setembro de 2020. Ela reuniu 1.500 assinaturas de moradoras contrários ao asfaltamento do bairro. Já o pedido de tombamento das ruas do Cambuí foi protocolado pela ONG Resgate Cambuí, em março de 2022. Fase de estudos. Após aprovação do colegiado, o processo avança para a fase de estudos e há um tombamento provisório, a fim de preservá-los. Ou seja, nenhuma alteração pode ser feita nos espaços sem autorização do Condepacc. É nessa etapa que se encontra o pedido de tombamento das ruas do Cambuí e da Vila Industrial. O tombamento provisório segue até que se conclua esta etapa e o conselho decida se há justificativa para tombar os locais e quais deles serão preservados. Tombamento definitivo. Após os estudos, o colegiado vota a favor ou contra o tombamento, podendo fazer alterações no projeto original, como excluir algumas das ruas por falta de preservação ou até mesmo incluir outras. A presidente da ONG Resgate Cambuí ficou feliz com o avanço do processo para a fase de estudos e acredita que o resultado pode ser satisfatório. "Talvez não de aprovem todas as ruas que a gente pediu, mas acho que uma boa parte pode ser tombada, sim. E acho bem importante que sejam", conclui. Para Ana Villanueva, este seria apenas o começo, já que, em sua opinião, existem outros patrimônicos históricos e ambientais que devem ser preservados. "Tem uma escola na Vila Industrial que é do Paulo Mendes da Rocha, um grande arquiteto de São Paulo, e é a única obra dele em Campinas. Também existem conjuntos de casas de antigos operários da Paulista que formam um conjunto urbano. Então, a minha expectativa é que não pare só no paralelepípedo, que além do paralelepípedo, outras coisas sejam tombadas, né?", comenta a arquiteta. Da terra ao asfalto Tipos de pavimentação ao longo do tempo: terra, saibro, pé-de-moleque e paralelepípedo FreePik Segundo o historiador, diferentes tecnologias de pavimentação demarcam a história e o tempo na cidade, muitas vezes acontecendo de forma concomitante à medida que vão sendo incorporadas. Nos primeiros anos de 1800, aparece o saibro. Trata-se de uma mistura de terra compactada com areia por cima. Essa técnica permitia que a terra não ficasse encharcada, facilitando o transporte. No início, era terra. Quando a primeira missa foi celebrada na vila que viria a se tornar Campinas, em 1774, os caminhos eram feitos de terra. Por volta de 1850, chega o pé-de-moleque. É um pavimento que utililza pedras de rio, encaixadas manualmente, tais como as encontradas na cidade de Paraty (RJ). Com a chegada da estrada de ferro, em 1872, surge um caminho de paralelepípedos. O caminho levava do centro da cidade que, na época, era nas redondezas da Rua Barão de Jaguara, até a ferrovia da Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Com a chegada dos bondes movidos à tração animal, em 1879, os caminhos se ampliaram. "Onde o bonde a burro passava, foi se fazendo essa pavimentação em paralelepípedo e ela se estende para toda a cidade", explica Anuziata. Nos anos seguintes, os paralelepípedos chegaram à Guanabra. Em seguida, preencheram a Barão de Itapura. Em 1915, ainda não havia esse tipo de pavimentação na Praça Mauá. "Então você vai marcando a temporalidade urbana. Essa que é a ideia desse estudo", reforça o historiador. Por volta dos anos 1950, enfim o asfalto. A cidade de Campinas por passando por processo de asfaltamento gradual, começando nas áreas centrais e se expandindo para os bairros. Também foi um momento marcado pela implantação de grandes rodovias, tais como Via Anhanguera, (1948), Rodovia Bandeirantes (1979) e Rodovia Santos Dumont (década de 1980). Estação ferrovivária e bondes movidos à tração animal em 1900 Allen Morrison Sustentabilidade urbana e charme De acordo com Tereza Penteado, presidente da ONG Resgate Cambuí, os paralelepípedos têm muitas vantagens, além de guardar a história da cidade. "É pelo valor histórico, mas também pela drenagem e pela beleza. Ele não deixa as ruas quentes como o asfalto, nem alagadas", comenta a ambientalista. Tereza morou perto da rua Coronel Quirino e afirma que, em épocas de chuva, "na velocidade que a água sobe, também desce", por conta do pavimento de paralelepípedos, já que "não têm obras de drenagem ali". Nem todo mundo do bairro concorda. Um morador que não quis se identificar disse que gostaria que as ruas fossem asfaltadas para facilitar a mobilidade. "Para quem passa de moto, é muito ruim", conta ele. Ainda de acordo com Penteado, esses problemas são facilmente contornáveis com manutenção adequada dos paralelepípedos. Listagem das ruas Vila Industrial Vila Industrial: cruzamento da Rua Vinte e Quatro de Maio com a Rua Alferes Raimundo Google Maps O g1 teve acesso ao documento no qual consta o pedido de tombamento de trechos de ruas da Vila Industrial. Nele, são definidos dois perímetros, dentro dos quais as ruas de paralelepípdeos estão tombadas provisoriamente até que os estudos do Condepacc se concluam. Na imagem a seguir, as áreas em laranja correspondem aos perímetros que contém trechos de ruas com paralelepípedos. Perímetro da Vila Industrial que contém ruas de paralelepípedos Google Earth Veja abaixo a lista de ruas da Vila Industrial tombadas provisoriamente. Rua Prudente de Moraes Rua Mestre Tito Rua Sete de Setembro Rua Engenheiro Pereira Rebouças Rua Conselheiro Gomide Rua Antônio Manoel Rua João Teodoro Rua Pereira Lima Rua Ernesto Segallio Rua Augusto Dias da Silva Rua Pinheiros Rua das Perdizes Rua Caçapava Rua Cerqueira Rua Gália Rua Glória Rua Francisco Teodoro Rua da Venda Grande Rua Rangel Pestana Rua São Carlos Rua Barão de Monte Mor Rua Alferes Raimundo Rua Benedito Otavio Rua Vinte e Quatro de Maio Cambuí Cambuí: Rua Álvaro de Azevedo (esquerda) e Rua Américo Brasiliente (direita) Arquivo pessoal Segundo a prefeitura, há tombamento provisório de 27 trechos de ruas no bairro Cambuí. Veja a lista a seguir. Rua Álvares de Azevedo Rua Américo Brasiliense Rua Antonio Cesarino Rua Barão de Ataliba Av. Benjamin Constan Rua Boaventura do Amaral  Rua Cel. Quirino Av. Cel. Silva Telles  Rua Dona Presciliana Soares Rua dos Bandeirantes  Rua Arnaldo Campos  Rua Guilherme da Silva  Rua Sampaio Ferraz Rua Dr. Vieira Bueno  Rua Ferreira Penteado  Av. General Osório  Praça Heróis da Laguna  Rua Itu Rua Joaquim Novaes  Rua Maria Monteiro Rua Padre Almeida Rua Quatorze de Dezembro  Praça XV de Novembro Rua Sampainho Rua Santa Cruz Rua Santos Dumont  Rua São Pedro Veja como Vila Industrial foi de bairro segregado a patrimônio arquitetônico de Campinas VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/11/04/por-que-campinas-quer-tombar-paralelepipedos-do-cambui-e-da-vila-industrial.ghtml


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